Em conversa no dia 26 de janeiro, no Blog Capital Digital, o presidente da DATAPREV, Rodrigo Assumpção, fez algumas afirmativas que, no mínimo, são polêmicas para justificar a retirado do teletrabalho para a maioria dos empregados da empresa, em detrimento de uma minoria que continuará no modelo remoto.
Vamos a primeira: “nós entramos no teletrabalho devido a epidemia do covid e não há aumento de produtividade, o que existe (pelo teletrabalho) é uma capacidade maior de gestão das vidas pessoais e elas não estão articuladas com as necessidades da empresa”.
Sobre essa “pérola”, o Sr. Rodrigo “esqueceu” que ele rebateu a notícia da TV Globo, do dia 16 de novembro do ano passado, que acusava a ineficiência da DATAPREV e que ela fecharia o ano com débito. Ele afirmou que a DATAPREV é lucrativa desde 2010 e que até 2022 operou com lucro de 1,58 bilhão, e taxou a expectativa de um lucro próximo a R$ 500 milhões para o final de 2023, um resultado primário positivo de R$ 26 milhões. Ou seja, mesmo durante quase três anos de pandemia e com teletrabalho, a DATAPREV deu lucro.
Como então, o Sr. Rodrigo Assunção tem a cara de pau de nessa entrevista ao Blog dizer que a Dataprev não teve aumento de produtividade com o teletrabalho, e que os empregados estão preocupados em manter o remoto para resolver os problemas pessoais e não em dar produtividade para a empresa?
Vamos a segunda pérola do Sr. Rodrigo: “a ideia do teletrabalho é que você tenha uma lista de tarefas para fazer e execute essas tarefas. Isso significa que o trabalho precisa ser profundamente processualizado e alguém precisa preparar para você a sua lista de tarefa, a sua ordem de serviço. Então, pelo teletrabalho, se transfere boa parte do pensamento, do raciocínio para os gestores da empresa”.
Para realçar essa pérola ele fez uma comparação: “aquela coisa que o povo de TI gosta de dizer quando sai de uma reunião chata: ‘porra’ essa reunião podia ter sido um e-mail. Essas pessoas também estão dizendo com essa frase o seguinte: eu queria que o meu chefe estivesse se debruçado sobre o problema, que ele tivesse estruturado uma solução para o problema, que ele escolhesse a equipe para lidar com o problema, que ele escrevesse a ’porra’ do e-mail e me mandasse para simplesmente executar a tarefa. É um distanciamento dos trabalhadores que joga a responsabilidade da gestão, da cultura e da tarefa para os gestores”.
É inacreditável que o presidente de uma das empresas mais importantes de Dados da América Latina no campo social, use o teletrabalho para jogar os trabalhadores chefes/gestores contra sua equipe, dizendo que ela é preguiçosa, que deixa todo o trabalho para os gestores e, por isso, ela quer ficar no teletrabalho.
Além dessa aberração, ele desconhece que a produção do trabalho presencial assalariado é um fenômeno histórico e se consolidou com a Revolução Industrial, a partir do século XVIII. Através da presencialidade dos trabalhadores no mesmo local de trabalho (fábrica e escritório) foi possível à classe burguesa o controle do tempo, dos movimentos, da quantidade e qualidade das mercadorias e, claro, do corpo dos trabalhadores durante a jornada de trabalho coletiva presencial.
O Sr. Rodrigo vive ainda no século XVIII e não está sabendo que o Capital já está na sua quarta revolução (Indústria 4.0). Nela, a internet é acoplada às máquinas informatizadas (internet das coisas) com poderosos algoritmos de inteligência artificial, possibilitando a produção e o gerenciamento de serviços e produtos sem nenhuma participação humana e totalmente à distância. Para esse tipo de organização do trabalho, típica dessa fase de desenvolvimento do capitalismo, o teletrabalho é uma possibilidade real, ainda mais numa empresa de Dados. Fica a pergunta: em que mundo e tempo este senhor está ou vive?
A Direção do Sindicato sugere aos trabalhadores participar ativamente das discussões sobre o teletrabalho no grupo do SINDPD-DF, aprofundar-se no tema e a respeito das demais ações. |